História da Educação Musical no Brasil
Recentemente um importante livro foi publicado no Brasil sobre a história da educação musical, trata-se da coletânea organizada por Do Monti e Rocha (2019) com o título: "Ecos e memórias: histórias de ensinos, aprendizagens e músicas". Alguns vídeos preparados por Vanessa Weber e Vanessa Weber, disponíveis no youtube também fazem uma interessante exposição sobre o tema:
https://youtu.be/OjNnPjuasLc (2012)
https://youtu.be/N5R8hyfYqyY (2018)
Também recentemente essa temática foi discutida em uma mesa redonda no IX Simpósio Internacional de Musicologia da EMAC-UFG (Cruvinel, Lopes, Kleber, 2019). Isso mostra que a temática está em ascensão no meio acadêmico, haja vista termos encontrado mais de 28 teses desenvolvidas com esta temática no Brasil até o ano de 2017 (Pereira, 2019).
História da Educação Musical no Brasil e Portugal (2019)
Mostramos a seguir que a temática da história da Educação Musical no Brasil tem encontrado certa dificuldade para se estabelecer, o que é confirmado pelos estudiosos da área.
Uma Linha Investigativa a ser verificada como fundamental para a área é a ‘História da Educação Musical’, a qual é possível de ser
acessada no contexto internacional, principalmente nos trabalhos de Cox (2002), Mark (2002a, 2002b,
2013, 2015) e Pierret (1972); e, ainda no The Bulletin of Historical
Research in Music Education. No Brasil a temática tem sido pouco
desenvolvida, presente em algumas publicações importantes como em Amato (2006), Bauab
(1960), Fonterrada
(2008), Mateiro e Ilari (2012), Paz (2000) e Souza (2014); as quais
apresentam várias formas de abordagem do tema.
Zille (2014, p. 82) em sua pesquisa de revisão dos artigos em revistas nacionais também encontrou a subtemática da ‘História da Educação Musical’. Nos trabalhos presentes na revista da ABEM, especificamente, encontramos os textos de Anezi e Garbosa (2013), Garbosa (2009), Jardim (2009), Martins (1992), Martinez e Pederiva (2013), Nogueira (1997) e Vieira (2012).
O texto de Martins (1992), presente na primeira revista da ABEM,
aborda uma rápida incursão histórica sobre o surgimento da Educação Musical
desde a idade média na Europa, passando pelo surgimento dos conservatórios de Música,
por movimentos da escola nova e métodos ativos e pelos movimentos da
implantação da Educação Musical nas escolas nos EUA. Antes de abordar a Educação
Musical no Brasil o autor explica o desenvolvimento do próprio conceito de
musicalização e iniciação musical.
O trabalho de Nogueira (1997) aborda questões históricas da Educação
Musical no Brasil, de modo a envolver questões sobre processos de ensino de música
desde o contexto da educação básica a partir da década de 1970, passando pela educação
profissionalizante, ou seja, cursos de nível técnico e superior; e ainda cursos
de Pós-Graduação em Música. Damos ênfase aqui às informações trazidas sobre a
implementação dos cursos de Pós-Graduação no Brasil, que segundo a pesquisadora
se inicia com o primeiro curso de mestrado em Música instituído em 1980 na UFRJ
(Universidade Federal do Rio de Janeiro), com áreas de concentração em Composição,
Educação Musical, Musicologia e Práticas Interpretativas. Em 1982 foram criados
os mestrados em Música no CBM (Conservatório Brasileiro de Música) e na UFRGS
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul), sendo criado em 1993 na UNIRIO
(Universidade do Rio de Janeiro). O primeiro doutorado em Música foi criado em
1995 na UFRGS. Outra informação importante que a pesquisadora traz é que a
ANPPOM (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música) foi criada
em 1987 (Nogueira, 1997). No mais, a pesquisadora realiza uma importante
análise sobre todo o processo de desenvolvimento da pesquisa, com base na
criação de cursos de mestrado e doutorado e na institucionalização de
associações importantes para a área no Brasil, como a ANPPOM e a ABEM. Nesse
sentido, é possível perceber uma relação entre o desenvolvimento da área no
contexto acadêmico/científico/social com as políticas de desenvolvimento de
democratização da Educação Musical.
Vale destacar que a revista da ABEM ficou sem publicação de
artigo diretamente ligado à história da Educação Musical por mais de dez anos,
sendo esta, uma temática menos abordada na revista.
O estudo de Jardim (2009), sobre a história do processo de
especialização do professor de música no Brasil, apresenta a constituição da Música
como disciplina escolar. A pesquisadora articulou as proposições de André Chervel[1]
com análise de fontes primárias. O estudo concluiu que os profissionais
especializados criaram um conjunto de saberes, instituições especializadas e uma
nova profissão. O estudo apresenta a gradativa exigência de especialização
deste professor, que se inicia com a reforma educativa de 1890 com a inclusão da
música no currículo, e culmina com a instituição do professor de Canto
Orfeônico a partir da década de 1930.
O texto de Garbosa (2009), apresenta contribuições teóricas
e metodológicas do referencial da História Cultural e da escola dos Annales,
com destaque para Roger Chartier, abordando os conceitos de apropriação,
representação e cultura popular. Posteriormente, a pesquisadora expõe os
processos de produção do texto histórico. Ao relacionar essa produção com a
área da Educação Musical são apresentadas considerações referentes ao canto como
prática de leitura decorrente de cancioneiros ou de livros escolares de música,
os quais se caracterizam como objetos culturais que revelam momentos da
história da área.
Em outo texto, Garbosa (Anezi e Garbosa, 2013) aborda as
memórias à docência em música, de forma a conhecer as lembranças ligadas a personagens,
acontecimentos e lugares e ainda o processo de iniciação musical até a entrada
na profissão. Os referenciais teórico-metodológicos dos estudos
(auto)biográficos trazendo discussões sobre memória e narrativa.
Vieira (2012) investiga a relação entre Educação Musical com
a Musicologia, a história e a sociologia. A autora foca nos modos de
apropriação, compreendidos pela pesquisadora como práticas de Educação Musical
em relação com as práticas musicais de gêneros ‘populares’ veiculadas na cidade
de Belém do Pará, na primeira metade do século XX. A investigação se apoiou
também em jornais e revistas como fontes históricas.
Os resultados alcançados permitem entendimento sobre pedagogias locais de apropriação musical e discernimentos que marcaram hierarquias musicais e, por conseguinte, hierarquias sociais que representam e que, por sua vez, as ratificam. As conclusões devem contribuir para um olhar mais aguçado sobre a construção histórica da atual situação da Educação Musical local e melhor fundamentar tomadas de decisão. (Vieira, 2012, p. 143).
Martinez e Pederiva (2013) apresentam um estudo contendo o histórico acerca da Educação Musical no Brasil. O estudo parte da bibliografia da área, livros, artigos, teses e dissertações e da análise da legislação nacional. Segundo as autoras, “ao longo dessa história perceberam-se diferentes situações em que a música esteve inserida no contexto escolar, sendo que em muitas circunstâncias ela exercia um papel secundário” (p. 11). As autoras colocam que em muitas das situações de inserção da Educação Musical na escola houve certa desconsideração acerca da diversidade cultural, ou ainda, houvera uma preocupação extrema com o ensino da técnica instrumental/vocal.
Assim, por meio destas publicações na área da ‘História da Educação
Musical’, é possível verificar que esta temática se aproxima em muito da musicologia,
da historiografia, da análise bibliográfica e da análise de legislações. Indo
ao encontro daquilo que Souza
(2014) pontua sendo uma área de difícil atuação em pesquisa, pois envolve uma
complexidade de dados elencados de vários contextos.
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