terça-feira, 9 de junho de 2020

História da Educação Musical

História da Educação Musical no Brasil

Recentemente um importante livro foi publicado no Brasil sobre a história da educação musical, trata-se da coletânea organizada por Do Monti e Rocha (2019) com o título: "Ecos e memórias: histórias de ensinos, aprendizagens e músicas". Alguns vídeos preparados por Vanessa Weber e Vanessa Weber, disponíveis no youtube também fazem uma interessante exposição sobre o tema:

https://youtu.be/OjNnPjuasLc (2012)

https://youtu.be/N5R8hyfYqyY (2018)

Também recentemente essa temática foi discutida em uma mesa redonda no IX Simpósio Internacional de Musicologia da EMAC-UFG (Cruvinel, Lopes, Kleber, 2019). Isso mostra que a temática está em ascensão no meio acadêmico, haja vista termos encontrado mais de 28 teses desenvolvidas com esta temática no Brasil até o ano de 2017 (Pereira, 2019).

https://youtu.be/fKvK12WSQPM

História da Educação Musical no Brasil e Portugal (2019)


Mostramos a seguir que a temática da história da Educação Musical no Brasil tem encontrado certa dificuldade para se estabelecer, o que é confirmado pelos estudiosos da área. 

Uma Linha Investigativa a ser verificada como fundamental para a área é a ‘História da Educação Musical’, a qual é possível de ser acessada no contexto internacional, principalmente nos trabalhos de Cox (2002), Mark (2002a, 2002b, 2013, 2015) e Pierret (1972); e, ainda no The Bulletin of Historical Research in Music Education. No Brasil a temática tem sido pouco desenvolvida, presente em algumas publicações importantes como em Amato (2006), Bauab (1960), Fonterrada (2008), Mateiro e Ilari (2012), Paz (2000) e Souza (2014); as quais apresentam várias formas de abordagem do tema.

Zille (2014, p. 82) em sua pesquisa de revisão dos artigos em revistas nacionais também encontrou a subtemática da ‘História da Educação Musical’. Nos trabalhos presentes na revista da ABEM, especificamente, encontramos os textos de Anezi e Garbosa (2013), Garbosa (2009), Jardim (2009), Martins (1992), Martinez e Pederiva (2013), Nogueira (1997) e Vieira (2012).

O texto de Martins (1992), presente na primeira revista da ABEM, aborda uma rápida incursão histórica sobre o surgimento da Educação Musical desde a idade média na Europa, passando pelo surgimento dos conservatórios de Música, por movimentos da escola nova e métodos ativos e pelos movimentos da implantação da Educação Musical nas escolas nos EUA. Antes de abordar a Educação Musical no Brasil o autor explica o desenvolvimento do próprio conceito de musicalização e iniciação musical.

O trabalho de Nogueira (1997) aborda questões históricas da Educação Musical no Brasil, de modo a envolver questões sobre processos de ensino de música desde o contexto da educação básica a partir da década de 1970, passando pela educação profissionalizante, ou seja, cursos de nível técnico e superior; e ainda cursos de Pós-Graduação em Música. Damos ênfase aqui às informações trazidas sobre a implementação dos cursos de Pós-Graduação no Brasil, que segundo a pesquisadora se inicia com o primeiro curso de mestrado em Música instituído em 1980 na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), com áreas de concentração em Composição, Educação Musical, Musicologia e Práticas Interpretativas. Em 1982 foram criados os mestrados em Música no CBM (Conservatório Brasileiro de Música) e na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), sendo criado em 1993 na UNIRIO (Universidade do Rio de Janeiro). O primeiro doutorado em Música foi criado em 1995 na UFRGS. Outra informação importante que a pesquisadora traz é que a ANPPOM (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música) foi criada em 1987 (Nogueira, 1997). No mais, a pesquisadora realiza uma importante análise sobre todo o processo de desenvolvimento da pesquisa, com base na criação de cursos de mestrado e doutorado e na institucionalização de associações importantes para a área no Brasil, como a ANPPOM e a ABEM. Nesse sentido, é possível perceber uma relação entre o desenvolvimento da área no contexto acadêmico/científico/social com as políticas de desenvolvimento de democratização da Educação Musical.

Vale destacar que a revista da ABEM ficou sem publicação de artigo diretamente ligado à história da Educação Musical por mais de dez anos, sendo esta, uma temática menos abordada na revista.

O estudo de Jardim (2009), sobre a história do processo de especialização do professor de música no Brasil, apresenta a constituição da Música como disciplina escolar. A pesquisadora articulou as proposições de André Chervel[1] com análise de fontes primárias. O estudo concluiu que os profissionais especializados criaram um conjunto de saberes, instituições especializadas e uma nova profissão. O estudo apresenta a gradativa exigência de especialização deste professor, que se inicia com a reforma educativa de 1890 com a inclusão da música no currículo, e culmina com a instituição do professor de Canto Orfeônico a partir da década de 1930.

O texto de Garbosa (2009), apresenta contribuições teóricas e metodológicas do referencial da História Cultural e da escola dos Annales, com destaque para Roger Chartier, abordando os conceitos de apropriação, representação e cultura popular. Posteriormente, a pesquisadora expõe os processos de produção do texto histórico. Ao relacionar essa produção com a área da Educação Musical são apresentadas considerações referentes ao canto como prática de leitura decorrente de cancioneiros ou de livros escolares de música, os quais se caracterizam como objetos culturais que revelam momentos da história da área.

Em outo texto, Garbosa (Anezi e Garbosa, 2013) aborda as memórias à docência em música, de forma a conhecer as lembranças ligadas a personagens, acontecimentos e lugares e ainda o processo de iniciação musical até a entrada na profissão. Os referenciais teórico-metodológicos dos estudos (auto)biográficos trazendo discussões sobre memória e narrativa.

Vieira (2012) investiga a relação entre Educação Musical com a Musicologia, a história e a sociologia. A autora foca nos modos de apropriação, compreendidos pela pesquisadora como práticas de Educação Musical em relação com as práticas musicais de gêneros ‘populares’ veiculadas na cidade de Belém do Pará, na primeira metade do século XX. A investigação se apoiou também em jornais e revistas como fontes históricas.

Os resultados alcançados permitem entendimento sobre pedagogias locais de apropriação musical e discernimentos que marcaram hierarquias musicais e, por conseguinte, hierarquias sociais que representam e que, por sua vez, as ratificam. As conclusões devem contribuir para um olhar mais aguçado sobre a construção histórica da atual situação da Educação Musical local e melhor fundamentar tomadas de decisão. (Vieira, 2012, p. 143).

Martinez e Pederiva (2013) apresentam um estudo contendo o histórico acerca da Educação Musical no Brasil. O estudo parte da bibliografia da área, livros, artigos, teses e dissertações e da análise da legislação nacional. Segundo as autoras, “ao longo dessa história perceberam-se diferentes situações em que a música esteve inserida no contexto escolar, sendo que em muitas circunstâncias ela exercia um papel secundário” (p. 11). As autoras colocam que em muitas das situações de inserção da Educação Musical na escola houve certa desconsideração acerca da diversidade cultural, ou ainda, houvera uma preocupação extrema com o ensino da técnica instrumental/vocal.

Assim, por meio destas publicações na área da ‘História da Educação Musical’, é possível verificar que esta temática se aproxima em muito da musicologia, da historiografia, da análise bibliográfica e da análise de legislações. Indo ao encontro daquilo que Souza (2014) pontua sendo uma área de difícil atuação em pesquisa, pois envolve uma complexidade de dados elencados de vários contextos.

Referências:
Anezi, F. M.; Garbosa, L. W. F. (2013). Memórias de formação musical e construção docente de Monica Pinz Alves. Revista da ABEM, 21(31), 77-90.

Amato, R. D. C. F. (2006). Breve Retrospectiva Histórica e Desafios do Ensino de Música na Educação Básica. Revista Opus, 12(12), 144-166.

Bauab, M. (1960). História da Educação Musical. Rio de Janeiro: Editora Organizações Simões.

Cox, G. (2002). Transforming research in music education history. In: Colwell, R.; Richardson, C. (eds.). The new handbook of research on music teaching and learning: a project of the music educators national conference. (pp. 695-708). Oxford: Oxford University Press.

Cruvinel, F. M., Lopes, E., Kleber, M. História da Educação Musical no Brasil e Portugal. Mesa redonda no IX Simpósio Internacional de Musicologia (EMAC-UFG), 2019. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fKvK12WSQPM

Do Monti, Ednardo M. G., Rocha, Inês de Almeida (Orgs.) (2019.). Ecos e memórias: histórias de ensinos, aprendizagens e músicas. Teresina: EDUFPI, 2019. Disponível em: https://www.ufpi.br/arquivos_download/arquivos/pronto_Livro_ECOS_E_MEM%C3%93RIAS_e-book_420191017163527.pdf

Fonterrada, M. T. de O. (2008). De tramas e fios: um ensaio sobre Música e Educação. São Paulo: Editora UNESP.

Garbosa, L. W. F. (2009). Contribuições teórico-metodológicas da história da leitura para o campo da Educação Musical: a perspectiva de Roger Chartier. Revista da ABEM, 22, 19-28.

Jardim, V. L. G. (2009). Institucionalização da profissão docente – o professor de música e a Educação pública. Revista da ABEM, 21, 15-24.

Mark, M. L. (2002a). A history of Music Education Research. In: Colwell, R. (ed.). Handbook of research on music teaching and learning: a project of the Music Educators National Conference. (pp. 48-59). New York: Schirmer Books.

Mark, M. L. (2002b). Nonmusical outcomes of music education: historical considerations. In: Colwell, R.; Richardson, C. (eds.). The new handbook of research on music teaching and learning: a project of the music educators national conference. (pp. 1045-1052). Oxford: Oxford University Press.

Mark, M. L. (2013). Music education souce readings from ancient greece to today. 4ª ed. New Youk: Routledge Taylor and Francis Group.

Mark, M. L. (2015). Music Education History and the Future. In Randles, C. (ed). Music Education: Navigating the Future (Routledge Studies in Music Education) (Locais do Kindle 63-64). Taylor and Francis. Edição do Kindle. 

Martins, R. (1992). Educação Musical: uma síntese histórica como preâmbulo para uma ideia de Educação Musical no Brasil do século XX. Revista da ABEM, 1(1). 6-11.

Martinez, A. P. de A.; Pederiva, P. L. M. (2013). Um breve olhar para o passado: contribuições para pensar o futuro da Educação Musical. Revista da ABEM, 21(31), 11-22.

Mateiro, T.; Ilari, B. (Org.). (2012). Pedagogias em Educação Musical. Curitiba: Editora Intersaberes.
Nogueira, I. (1997). O Modelo atual da Educação Musical no Brasil: um drama em três atos incongruentes. Revista da ABEM, 4, 9-24.

Paz, E. A. (2000). Pedagogia Musical Brasileira no Século XX, Metodologia e Tendências. Brasília: Editora MusiMed.

Pereira, E. P. R. (2019). A Educação Musical no Brasil: temáticas, concepções e linhas investigativas. (Tese de Doutorado em Educação, Universidade de Santiago de Compostela – USC). Santiago de Compostela, Espanha. Disponível em: <https://minerva.usc.es/xmlui/handle/10347/20495> Acesso em Dez. de 2019.

Pierret, F. (1972). Mito y realidad de la Educación Musical en América Latina. Revista Musical Chilena, 26(117), 24-35.

Souza, J. (2014). Sobre as várias histórias da Educação Musical no Brasil. Revista da ABEM, 22(33), 109-120.

Vieira, L. B. (2012). Nas rotinas do cotidiano: Educação Musical em Belém do Pará na primeira metade do século XX. Revista da ABEM, 20(29), 143-158.

Zille, J. A. B. (2014). Cenário da produção bibliográfica científica publicada na área de Música no Brasil no ano de 2012. Revista Modus, IX(14), 75-94.

Professor Eliton Pereira
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Sou Fabrícia Eges Ferreira Azevedo, cantora, compositora, tecladista, aluna do curso de licenciatura em música do IFG Campos Goiânia. Sou um...